quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Objetivos Estratégicos da Logística Reversa

A ideia principal da Logística Reversa é a de agregar valor de alguma natureza às empresas, através do retorno dos bens ao ciclo de negócios ou produtivo. A natureza de valor agregado, ou  recapturado, varia entre os setores empresariais e em seus diversos segmentos de negócios. Em conseqüência, observa-se um espectro de aplicações e de interesses na implementação de retorno de bens de pós – venda e de pós - consumo, bem como diferentes estágios tecnológicos de aplicação da Logística Reversa entre os diversos setores empresariais, conforme se poderá constatar ao longo destes artigos.

Certamente o objetivo estratégico econômico, ou de agregação de valor monetário, é o mais evidente na implementação da Logística Reversa nas empresas, porém observa-se que mais recentemente, dois novos fatores incentivam decisões empresarias em sua adoção: o fator competitividade e o fator ecológico. A análise a seguir considera exemplos de aplicações da Logística Reversa nos quais alguns destes objetivos se destacam de forma mais nítida, embora sempre existam outros ganhos ou valores agregados simultâneos que se traduzem como ganhos empresariais marginais.
Estratégias em Logística Reversa
O objetivo estratégico econômico na Logística Reversa de Pós - Venda evidencia-se, por exemplo, na comercialização de saldos ao final de estação ou de promoções de vendas no varejo que serão comercializados em mercados secundários de ponta de estoques, “out-let”, lojas de “ tudo por R$ 1,99”. A redistribuição proveniente de excesso de estoques em canais propicia excelentes resultados econômicos quando direcionados à regiões de melhor giro, tanto no mercado nacional como em mercados internacionais, aproveitando a diferença de estações climáticas entre hemisférios.

O objetivo estratégico econômico na Logística Reversa de Pós – Consumo pode se constituir, por exemplo, na economia realizada pelo aproveitamento de ligas de chumbo de baterias usadas que são reutilizadas integralmente na fabricação de baterias novas, de ligas de alumínio das latas de bebidas descartadas igualmente utilizadas na fabricação de latas novas. Estes casos ou setores em que o produto de pós – consumo é aproveitado devido à sua matéria prima constituinte representam normalmente estratégias de viabilidade econômica do setor. O comércio de bens duráveis usados como automóveis e máquinas operatrizes em geral, representam importantes atividades econômicas. 

O Exemplo do Canal Reverso de Reuso e Remanufatura de Copiadoras da Xerox nos Estados Unidos (CLM, 1993: 177)
A empresa Xerox, como estratégia de comercialização de suas copiadoras estabeleceu, desde 1960, uma rede reversa de seus produtos utilizando a coleta do tipo “Take Back”, desmontagem dos produtos, seleção de destino e reutilização dos mesmos, com ou sem remanufatura, em produtos novos de sua linha dando as mesmas garantias e repassando as economias de custos aos seus clientes, além da recompra dos equipamentos garantindo um nível de competitividade elevado no mercado. O projeto do produto foi idealizado de forma a facilitar a desmontagem e os componentes de alta intercambiabilidade garantindo flexibilidade em sua reutilização.

O esquema da imagem a seguir apresenta a rede reversa da empresa nos Estados Unidos constituída por 50 Centros de Distribuição Reversos operados por empresas terceirizadas, dois Centros Nacionais de Distribuição Reversa e diversas plantas de remanufatura ao longo do país. Na venda de uma nova máquina a data de entrega e de desinstalação são planejadas e executadas pelas empresas terceirizadas de dos diversos centros de distribuição, conciliando as operações. Estas empresas se encarregam da desinstalação produtos usados, da seleção e do destino a ser dado aos produtos e componentes. Em alguns casos os equipamentos serão submetidos a reparos nos centros de distribuição regionais e destinado a locação de equipamentos usados, enquanto em outros casos o equipamento é enviado para um dos Centros Nacionais de Distribuição Reversa onde será realizada nova seleção e destino. Nos casos de modelos de grande venda nos Estados Unidos a decisão poderá ser a de transporta-los à uma planta de remanufatura onde será executada a desmontagem completa com reaproveitamento dos componentes em condições de uso em novos equipamentos e aqueles considerados sem condição de uso serão vendidos como sucata para a reciclagem dos materiais constituintes.
Rede de Distribuição Reversa da Xerox
Rede de Distribuição Reversa da Xerox - Fonte: Adaptado de C.L.M. ( 1993: 177) 
O caso Xerox é um dos exemplos de empresas em que a Logística Reversa e os cuidados na montagem da rede reversa em nível internacional fazem parte da estratégia empresarial com excelentes resultados. A revalorização logística garantida pela rede reversa dos equipamentos usados até as consolidações em centros de distribuição reversos especializados, a revalorização econômica e tecnológica através do reuso de seus equipamentos e componentes, e a revalorização ecológica reduzindo o impacto de seus produtos ao meio ambiente, obtendo um resultado positivo em sua imagem corporativa junto aos clientes e à comunidade em geral.

Outros Casos Empresariais

As empresas Dupont e Welmman, nos Estados Unidos, adotaram a Logística Reversa como estratégica em suas empresas montando redes reversas que permitem a recuperação de valor de filmes e outros produtos de poliéster descartados como matéria prima secundária na fabricação de novos produtos como fibras de poliéster para tapetes, acolchoados, confecções esportivas, agasalhos, etc.

O objetivo ecológico ou de imagem corporativa na Logística Reversa constituem-se de ações empresariais que visam contribuir com a comunidade através de incentivo à reciclagem de materiais, à alterações de projeto para  reduzir impactos ao meio ambiente, entre outros. A substituição da embalagem de poliuretano pelo papel no grupo McDonalds visando a redução do impacto e melhoria em reciclagem e o projeto do automóvel Volvo reciclável, no qual as condições de desmontagem foram facilitadas, são exemplos de objetivos desta natureza. 

O objetivo de competitividade por diferenciação de nível de serviço ao cliente evidencia-se pelos exemplos da empresa farmacêutica Bristol-Myers Squibb que estabeleceu a Logística Reversa como prioridade estratégica visando equacionar o retorno de medicamentos que perdem validade no mercado, oferecendo um nível de serviço diferenciado a seus clientes.

A empresa de cosméticos americana Estée-Lauder além de oferecer um serviço diferenciado a seus clientes ao implantar tecnologia de informação em sua Logística Reversa obteve enormes economias pela redução de perdas e pela possibilidade de redistribuição de produtos. As conhecidas empresas varejistas Wall Mart, Kmart e Sears possuem diversos centros de distribuição reversos nos Estados Unidos, e contratam terceiros para operá-los de forma a dar suporte ao crescimento de devolução de produtos, função de políticas de liberalização de devolução espontânea de mercadorias e em moda naquele país por força da competitividade estabelecida neste ato comercial.

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O objetivo de satisfação de legislação na Logística Reversa é caracterizado por situações em que existem impedimentos de destinação final de um produto, a legislação obriga ao fabricante a providência de coleta e destino dos produtos de pós – consumo, obriga os diversos elos da cadeia a aceitar devoluções de embalagens de seus clientes, a aceitar e se responsabilizar pelo retorno de produtos perigosos. Empresas de óleo lubrificante, lâmpadas fluorescentes, bateria de celulares, entre outros produtos no Brasil são responsáveis pela Logística Reversa de retorno de seus produtos de pós-consumo através de legislação expressa.

Observe-se que os diversos objetivos acima mencionados não são independentes e poderão ocorrer simultaneamente. A imagem a seguir resume algumas idéias de revalorização nas duas categorias de fluxos reversos.
Logística Reversa –Exemplos de Agregação de Valor
Importância Econômica da Logística Reversa
Os dados econômicos sobre Logística Reversa, aqui apresentados, baseiam-se em estimativas projetadas por algumas pesquisas realizadas nos Estados Unidos, e em pesquisas em Logística Reversa de Pós Consumo em alguns setores no Brasil. Como os dados são setoriais e o interesse desta nova é recente acreditamos que as estimativas atuais sejam ainda conservadoras. No entanto, pode-se inferir o potencial de ganho e as oportunidades de desenvolvimento nesta nova área.

Nos Estados Unidos, pesquisas estimam em cerca de 35 bilhões de dólares os custos de retorno de bens em 2016, ou seja cerca de 0,5 % do PNB do país, ou 4% dos custos logísticos totais ( US$ 975 bilhões em 2016). Somente o mercado de peças de automóveis remanufaturadas neste país foi de 56 bilhões de dólares em 2016, de acordo com a Automobile Parts Rebuilders Association, através da atuação de 12.000 empresas de desmontagem de automóveis e de remanufatura de peças em atividade atualmente no país.

Pesquisa em setores compreendendo computadores, equipamentos de rede, equipamentos de automação, embalagens retornáveis e eletrodomésticos da “linha branca”, ainda nos Estados Unidos estimou que o custo total da Logística Reversa foi de US$ 7,2 bilhões em 2016 nestes setores e com uma previsão de atingir US$ 7,7 bilhões no ano de 2017. 

O instituto de pesquisa em informática Gartner Group prevê um valor de US$ 11bilhões de retorno de bens no segmento do e-commerce nos Estados Unidos, um dos setores de maior potencial para a Logística Reversa.

Acrescentando a estes dados do segmento de pós – venda, outros exemplos na área da Logística Reversa de Pós - Consumo tal como a industria de ferro/aço que consome mais de 30% de matérias-primas secundárias, a indústria do alumínio cerca de 20%, a industria do plástico cerca de 20%. Pode-se avaliar a importância para estes setores do fluxo de matérias-primas secundárias garantidas pela Logística Reversa na mesma proporção com que compõem o produto de venda destes setores, ou seja, que o valor econômico movimentado pela Logística Reversa na cadeia do ferro/ aço, por exemplo, é de mais de 30% do valor de venda do produto do setor (no Brasil mais de US$ 2 Bilhões / ano).

Sendo áreas de longa tradição muitas vezes os valores econômicos envolvidos na atividade são considerados como parte integrante do negócio do setor.

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